Faíscas pelo Horizonte

24 de mar. de 2015

Faíscas pelo Horizonte


Em pedaços, quebrado, sangrando
A chuva tocou nossa pele, calma
As lágrimas se encontraram no chão
O gramado queima, faísca
O suspiro some com vento
Minha alma paira sobre a neblina
Meu corpo cai em lacunas
Quem vai nos tirar?
Quem vai nos tirar?
Hora de afogar, arrumar os trilhos
Preparar as taças,
Esperar a neve,
Acolher o frio,
Tomarmos o vinho.
Não acredito, desapareço,
Devolva-me minha alma
Estou cansado de nadar,
E boiar não basta.
Acordei com desespero
Ouvi sua voz,
Tocava meus sentidos,
Mergulhava em meu Oceano,
Ficava comigo sobre o gramado.
A temporada começou,
Serei a caça, pegue,
Chateado com o resultado?
Aborrecido com o caminho?
Certo ou errado? Mentira ou dúvida
Deixe-me! Livre-se. Não diga
Afaste-se,  viajei para o horizonte
Alcancei a colina com o por do sol
Vi o brilho em seus olhos
Vejo o mesmo no horizonte,
Vejo o mesmo no luar,
Vejo o mesmo no Oceano,
No mar.
Jogue essa areia sobre...
Recomece,
Refresque, pegue uma sombra.
Sente a brisa bater em seu corpo,
O toque frio, sem dor, sem alegria,
Nada.
Sente o nada?
Sente o nada?
Então eu serei o nada,
Serei a brisa,
Viajarei com o horizonte,
Tocarei a lua,
Ficarei na areia,
Verei o mar,
Serei o Oceano.
Olhe o relógio. Não parou?

O Crepúsculo da VIda

12 de mar. de 2015

O Crepúsculo da Vida  


   Durma... Durma... Não passa de árvores. Veja a sombra, as folhas balançando, o galho está batendo na janela. O dia já está para renascer, se prepare.
   Então acordei. Voltei pra lá, ali pertencia, quero ser livre. Não condenada. Olho no espelho e vejo sombra. Como o galho na janela. Meus cabelos do loiro mudavam para o cinza, acho que sumirão depois de um tempo. Mas para aquele dia, esse dia, eu realmente deveria ter me preparado. Mas como me preparar se hoje é ontem, e o amanhã é agora. Nos preparamos para o inevitável. E quando chegar, tentaremos evitá-lo. Mas nesse dia resolvi sair. Estava frio, o gramado liso, coberto por uma fina camada de neve. O orvalho estava lá, escorregando melancólico, escondendo-se no dia.
   Fui até o lago. Estava distante. O sol, ocupado, estava no fundo, nascendo. Então avistei no meio de um pequeno arbusto um gato. Vi que ele tinha seus olhos fixos em mim. Chamei-o. Ele pulou para fora do arbusto, seus pelos pretos brilhavam. Aquele gato não tinha mais vidas, ele vinha do oeste, estava liberto.
   Começou a chover. Minha pele queimava. Estava tudo parado, estático. Então o gato foi se aproximando. Pulou por cima de algumas pedras, até entrou na água em certa parte do caminho. E chegou perto de mim. A chuva não parou, estava do mesmo modo. O dia fugiu. Mas eu já não me queimava. O gato estava comigo. Não sei se estava feliz, não sei se eu estava feliz, mas ali eu sobreviveria. Sabia disso, já não estava afundando. Afundando. Já estava no centro do lago. Algum tempo se passou, e eu não pertencia aquele lugar. Será que você pode consertar o caminho? Ele me olhava fixamente. Sentia a angústia em seu olhar, não podia impedir que eu me afogasse. Eu teria que sair do lago sozinha. Então algo me puxou.
   E lá estava a dama que eu conheci em um banco eu um dia parecido com este. Ela estava sobre as algas, mas estava molhada. Ela estava molhada. Isso significava muito pra mim. Em minha existência, acho que posso chamar assim, as pessoas não se molhavam. Apenas apareciam secas. Antes de qualquer movimento, percebi que não estava respirando. Mas não me preocupei. Mergulhar aparentemente não faz mal, afundar entre as algas apenas me deixa aparte do mundo. Esta sensação não é tão ruim. Mas eu faço parte do mundo, não? Há mundo ainda para fazermos parte. Então ali poderia me esconder. Não sei se chegará um dia em que eu não vou conseguir sair novamente. Como disse, o amanhã já é agora. Mas tentarei, tentarei até não existir sentido. Tentarei moldar um sentido. Tentarei.
   Saí da água, continuava chovendo. O gato me esperava do outro lado. Fui até ele. Já não era o mesmo, envelhecera. E o dia nascia, como o mesmo.


Sussurros

11 de mar. de 2015

Sussurros


Sussurros ecoam pela encruzilhada 
A batida penetra o coração 
Ferve os nervos a cada corrida 
Seu sorriso já não faz sentido 

O tempo parou há tempos 
Nós o escondemos, sem vidros no chão 
O sangue lento corre entre os cacos 
Feridas profundas, oceanos de angústia 

Coloque-me abaixo disso 
Tire-me dessa extorsão 
Mostre seu rosto pelo menos 
Meu último sussurro, você 

Não precisamos mais de maquiagem 
Voltamos, sem cicatrizes 
Sem premonições, sem agora 
Estamos vivendo...

Escamas

7 de mar. de 2015

Escamas


Olhe para cima
Veja a lua brilhar
As estrelas tocarem sua pele
O céu te chamar

O mar tocar seus pés
O desconhecido estremecer
A onda surgir, sentir
E desaparecer

Lembro ainda de tua mão
Abrir o luar com um toque
Desconhecer a escuridão
Viajar para o horizonte

Ele está aqui por você
Vá, não olhe para trás
Esqueça seu passado
O relógio não volta

Diga-me, vou te ver novamente?
Pode contar comigo, pergunte
Não sabe onde ir, desconexo 
Eu sei, pra você, não pra mim

Ventania

6 de mar. de 2015

Ventania


Pelos montes caminha vagarosa
Ilhas de tormento levam teu sorriso
Aprisiona-se entre as dores do mundo
Pega tuas cores para extermínio 

Certamente entre as montanhas o sol nascerá
Nossas vidas ainda podem acordar
O coração talvez surgirá
A esperança aparenta perpétua, para a vida 

Andastes no campo sozinha
Como o vento, foi e sumiu,
Passa para melhorar o dia, refresca, 
Depois se perde no mundo 

A ventania passou, levou as flores
O perfume sumiu das rosas,
O brilho do sol acaba, morre
As folhas continuam

Há razão para andar nos montes?
Ver o sol se por, e se por, e se por
A lua refletir no lago, 
A lágrima cair no gramado,
O cheiro verde do molhado invadir o olfato,
A lua segurar a dor, o dia despreocupado,
Há razão? Ou aceitaremos de bom grado? 


Estrada para a Redenção

5 de mar. de 2015

Estrada para a Redenção



Diga-me, já não somos capazes

Suba aqui no céu, acompanhe
Vejas os demônios arrastarem suas correntes
Os anjos presos em seus altares

Então o animal finalmente saiu da toca
Este é o momento!
Nem futuro, eles disseram,
Nem sofrimento.

Poderia, nunca mais seria dito
Disseste o impossível
Livre do Ceifador, livre das folhas
Afogado pelo seu próprio nada

Andou sozinho pelo vale
Com todos, consigo
Anjos me ofereceram a chave
Demônios a prisão, a liberdade

É o momento!
Chegou o julgamento final,
Enfileirados, cães para o abate,
Dono cortejado. 

Já não enxergamos sofrimento,
Estamos dentro dele,
Acostumados, sustentados,
Aleluia! Aliviados. 

Siga por aquele caminho, filho
Não pise nos espinhos,
Apenas sinta o cheiro das rosas...
Corra até aquele arco-íris. 

Estou vendo o caminho,
Não leva a nenhum lugar...
As rosas do meu caminho caíram, murcharam
As folhas insistem em permanecer

Queime-as! 

Lágrimas do Céu

3 de mar. de 2015

E as portas do céu se abriram
Meu chão estava muito pesado
As paredes estavam cheias de mentiras
A chuva já não caia sobre nossas cabeças

Desceu montada em seu próprio medo
A terra já não pertence aos anjos
Mas ela se atreve a pousar
Quebrar suas asas para viver entre humanos

A dor escorre de seus olhos
Não entendem seu ser, 
Pobre anjo, tem alma

Sua âncora está solta, livre
Mas o céu a chama
Chá não apaga